quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Do que eu aprendi com Jum Nakao

Ontem eu e outras dezenas de pessoas paramos alguns minutos para ouvir um pouco da história que Jum tem contado desde de seu marcante desfile "A costura do invisível" em 2004. Ele estava ali para mostrar o processo criativo desta obra, e não como a maioria dos criadores, contar (ou mesmo inventar) o fim, a criação em si. E mais que sobre moda, ele mexeu com várias coisas dentro de mim....

Em 2004 eu estava lá, não exatamente na sala do desfile, mas sentadinha em um tablado, assistindo pelo telão (em tempo real) aquele que seria um marco na moda brasileira (e no mundo). Nem eu, nem mesmo Jum, sabíamos as proporções que aquele momento tomaria.


É engraçado, quando você presencia um momento que será tão marcante, não imagina quão grande ele é. Com o tempo, com a retição a situação vai  tomando uma força ainda maior, e ganha status de ícone. E como disse minha amiga Mayna, a cada vez que uma história é contado ela ganha novos significados. 



Obviamente, a ideia de Nakao em fazer roupas de papel foi inusitada, mas maior que isso foi destrui-lás logo após sua apresentação. Esta sim tomou significados intangíveis. Pode-se falar sobre o efêmero, os valores vazios, e até mesmo de como as pessoas são mais que as roupas (assim como a faxineira da bienal relatou ao estilista).  Mas, para isso ele teve que pensar em algo maior e se desapegar da matéria, e pensar em significados invisíveis.

E realmente, revendo o desfile, é impressionante como a platéia fica perplexa, em ecstasy, emocionada e literalmente de boca aberta na parte final, quando os belos vestidos armados em estilo do séc. XIX, feitos de papel, cortados a laser, com detalhes de renda lindíssimos, são destroçados pelas modelos de cabeça de playmobil. E as pessoas questionam até hoje porque rasgar tantos meses de trabalho?

O antes e o depois

Mas, na minha humilde opinião, a destruição da própria obra que trouxe o sucesso gigantesco do desfile de Jum. E por isso que Jum tomou o cuidado de registrar todos os passos, desde a idealização da ideia, a contrução dela, aos bastidores e o show em si.

Outra coisa que me marcou muito na palestra foi quando ele comenta que todos sabem a hora de parar, qualquer coisa que seja, um trabalho, um relacionamento, um comportamento, mas é preciso ter coragem para parar e recomeçar (afinal como diz Chico Xavier, a vida são vários recomeços).

A obra sendo destruída e construída

No caso de Nakao, sua despedida (não do mundo da moda, já que ele participa ativamente como professor, palestrante e consultor, mas do circuito de moda) foi fechada com chave de ouro. E durante a palestra ele mostra e conta como as pessoas foram importantes, o trabalho de equipe, cada um fazendo sua parte mas pensando no todo, todos integrados para um mesmo fim. E de como o processo criativo não é algo amarrado, planejado, como o meio e o acaso vão trazendo ainda mais beleza para a obra. E que o desfile foi uma surpresa para todos, até mesmo para ele e para a equipe...pois não havia como ensaiar a parte final, os vestidos eram únicos, e só poderiam ser rasgados uma única vez (obviamente). Faça aí a metáfora uma metáfora sobre a vida em si...

O fim. E um novo começo

Adorei também quando ele diz, que as pessoas não tem a paciência, que elas só pensam no fim, onde querem chegar e não no meio. Com isso fiz um paralelo sobre o post de ontem, que quando as pessoas não pensam no fim (ficarem ricos, ser bem sucedido, etc), mas em idealizar algo, com paixão, algo com a sua verdade, e se dedicam a isso, naturalmente vai colher os frutos disso. Me surpreendeu também ele contar que não sabia ao certo o que faria depois do desfile, eu imaginava que ele já planejava dar aulas. Mas, não...simplesmente as oportunidades foram surgindo, como consequências do que ele havia plantado. Ele acreditou na sua ideia, e fez a diferença.

Bom, já me extendi demais hehehe..Espero que eu tenha conseguido passar pelo menos um pouquinho do que aprendi na noite de ontem com Jum Nakao.

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